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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Resenha “O espetáculo das Raças – Cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930”, de Lilia Moritz Schwarcz


Breve apresentação da obra e autora

A obra utilizada para a resenha a seguir é “O espetáculo das Raças – Cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930”, de Lilia Moritz Schwarcz. A autora é professora livre-docente do Departamento de Antropologia da USP e já publicou diversos outros títulos, inclusive o quarto volume da coleção Historia da Vida Privada no Brasil . Na presente obra, tratam-se principalmente as discussões científicas acerca da miscigenação de raças no período indicado no título.
Vale lembrar que “O espetáculo das raças” foi editado pela primeira vez em 1993, revelando, desta forma, o pioneirismo da autora na abordagem desses temas. A leitura fácil porém esconde a complexidade dos temas abordados, necessitando de uma maior atenção em pontos de destaque para a melhor absorção do conhecimento que a obra proporciona.

O Brasil do fim do século XIX

Schwarcz nos lembra que o Brasil da década de 1870 é um país que está saindo gradualmente de uma situação de escravidão e, ao mesmo tempo, com uma necessidade de entender a própria constituição de seu povo. A complexidade da miscigenação existente no país era alvo de diversos estudos nacionais e de estrangeiros que vinham tentar entender nossa constituição.
Um dos exemplos de estudiosos que vieram para tentar compreender a formação do povo brasileiro, foi o baluarte do racismo, conde Artur de Gobineau, que em certo momento diz que o país “trata-se de uma população totalmente mulata viciada no sangue e no espírito e assustadoramente feia”. Vale lembrar que a vinda de muitos desses estudiosos para o Brasil era financiada pelo governo, dada a precariedade de nossas instituições de ensino e o ideal quase comum a todos da época de que principalmente a Europa era o grande centro da intelectualidade mundial. Por esses motivos, podemos apontar o sucesso das teorias estrangeiras para a explicação do caso brasileiro.
Nossas instituições primeiras de ensino, criadas no início do século XIX com a chegada da família real, ainda engatinhavam na produção intelectual, como em quase todos os pontos não só do Brasil, mas da América Latina. Essa situação fez com que as teorias europeias sobre as raças fossem amplamente aceitas no país, sem críticas ou algum tipo de adaptação para a realidade local. Esse quadro começou a mudar no final do século XIX, pois gradualmente o Brasil se via inserido em um novo modelo político e social, fazendo surgir uma certa autenticidade no pensamento brasileiro.

A ciência no Brasil

O olhar da ciência da época para as questões raciais no Brasil se deu principalmente após a Lei do Ventre Livre, em 1871, quando a escravidão brasileira ruía gradualmente. Muitas teorias dos imperialistas europeus eram utilizadas para explicar a “inferioridade” da raça negra perante as demais, negando qualquer possibilidade de civilização dos negros. A miscigenação era vista com espanto ainda maior, pois apenas as “piores” qualidades das raças misturadas se ressaltavam.
Também no final do século XIX começam a surgir os homens da ciência no Brasil. Nomes como Nina Rodrigues, Euclides da Cunha, Sílvio Romero e Osvaldo Cruz ganharam destaque e muita popularidade na época.
Grande parte dessa elite intelectual brasileira era reprodutora dos discursos europeus, principalmente por serem de origem mais rica e muitos terem estudado na França e Inglaterra, que eram os principais polos econômicos, políticos e intelectuais da época. Suas ideias vinham principalmente das correntes positivistas, deterministas e evolucionistas. Essas correntes eram tão influentes que até hoje em nossa bandeira podemos ler “ordem e progresso”, resultado da influência direta do positivismo. Também nessa época algumas críticas ao modelo europeu começam a surgir, dando origem ao pensamento brasileiro, que começa a se constituir no final do século.
A grande notoriedade desses homens justifica-se porque a ciência era assunto em voga no finais do século XIX. Discutir ciência era a moda entre os homens letrados: diversas publicações entre revistas e livros se dedicavam ao tema, que estava em plena efervescência no país. Muitos viviam a ciência como uma espécie de sacerdócio.
Entre os temas discutidos pela ciência no final do século XIX estavam as teorias raciais da época. O assunto estava em pauta, pois a escravidão brasileira começava a ruir, e havia a necessidade em saber cientificamente qual o papel do negro na sociedade em que acabada de ser inserido. Essas teorias raciais dialogam principalmente com autores franceses do século XVIII: Rousseau Buffon e De Pauw destacam-se como grandes influências para justificar diferenças essenciais entre os homens.
Assim, podemos dividir as ideias dos homens de ciência no Brasil da época em duas principais vertentes: o antropológico, ligado às ideias de poligenismo, imutabilidade, que defendiam os tipos humanos que tinham forte ligação com o pensamento biológico e, por outro lado, os estudos etnológicos, ou seja, monogenista, evolução cultural que era ligado ao iluminismo de Rousseau, tendo como adepto Nina Rodrigues.

O papel dos museus no país

O surgimento dos primeiros museus etnográficos no país foram um grande avanço para a emancipação do pensamento cientifico do Brasil na época. Os museus também foram importantes nesse contexto para afirmar os discursos dos cientistas.
Schwarcz cita 3 principais museus: o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que era ligado ao imperador na capital do país; o Museu Paulista (ou do Ipiranga) em São Paulo, que para muitos personificava um gabinete de quinquilharias da emergente elite paulistana do café; e o Museu Paraense Emilio Goeldi que, às portas da Floresta Amazônica, tentava criar um novo polo de intelectualidade no Brasil.
A própria autora diz:

Ao mesmo tempo em que ajudaram a popularizar no exterior a imagem de que o Brasil seria um grande laboratório racial – Um exemplo para o mundo –, introduziram os museus etnográficos no país os um olhar particular. Um olhar naturalista que classifica conjuntamente fauna, flora e o homem em suas produções. “A perfectibilidade humana fará seu papel no Brasil, assim como a natureza não cessa de agir nas especies animais e vegetais”, dizia Von Ilhering esperando em um aperfeiçoamento evolutivo nas desacreditadas populações mestiças e indígenas do país.1

Ou seja, nem só de exposições viviam os museus brasileiros, diversos estudos eram realizados em seu interior. Dialogando com o exterior, essas instituições coletavam no local em que se encontravam exemplares preciosos que atestavam as especificidades desse nosso “exótico país”, mas também possibilitaram a comprovação do problema racial.

Os institutos Históricos e Geográficos no Brasil

Outros institutos, dessa vez, os históricos e geográficos da época também são analisados pela autora. Essas instituições tinham como objetivo criar uma historia nacional e oficial, mas tinham como grande dilema a inclusão do negro e do índio na formação histórica brasileira.
Nas palavras da própria autora:

No entanto apesar a admiração que os modelos deterministas pareciam gozar, eles mais serviram de referencia do que inspiraram a interpretações originais... O projeto de Von Martius, apresentado nos primeiros anos de IHGB, ainda era o modelo vencedor. A História do Brasil consistia na história de suas três raças formadoras convivendo em ordem e respeitando as hierarquias e suas desigualdades biológicas2

Então podemos dizer que os negros eram inseridos na historia oficial brasileira do final do século XIX, como seres cientes de suas limitações e de hierarquia abaixo de outros grupos sociais apontando para um branqueamento natural da sociedade reservando um futuro branco e europeu para a nação.

As faculdades de Direito e Medicina

As primeiras faculdades de direito no Brasil, foram criadas também durante o segundo império. Apesar de ainda ser governado por um português, o Brasil buscava cada vez mais se emancipar culturalmente e intelectualmente dos lusos. O curso era muito cobiçado na época, pois os concluintes se tornavam intelectuais da sociedade local. Basta lembrar que muitos professores de História eram formados em direito, o que revela a diversidade de áreas que o curso abrangia para a época.
Essas instituições de ensino serviram, entre outras coisas, para legitimar diversos discursos raciais. Pernambuco por exemplo, oferecia cursos de antropologia criminal formando principalmente cientistas, já a faculdade paulista tinha como foco a formação de políticos. Um dado interessante a ser destacado é a falta de um currículo se não unificado, ao menos parecido, entre as faculdades que ofereciam o mesmo curso.
Segundo Schwarcz, as faculdades de medicina especialmente da Bahia e do Rio de Janeiro, também serviram parar reforçar o discurso racial no país a partir da década de 1870, apontando para o higienismo e os males da miscigenação. Segundo a própria autora: “Ou seja, para os médicos cariocas se tratava de combater doenças, para os profissionais baianos era o doente, a população doente que estava em questão” (Schwarcz, p.190).

Conclusão

Para entender as discussões raciais atuais, é preciso buscá-las na origem, por isso a leitura de “O espetáculo das raças” se torna cada vez mais importante. Com um livro ao mesmo tempo crítico e informativo, Lilia Moritz Schwarcz consegue percorrer os diversos pontos da gênese do debate racial brasileiro.
A busca pela identidade nacional começa então a partir desses homens de ciência do final do século XIX e quem sabe não terminou até hoje. Diversos historiadores brasileiros tentaram em alguns momentos entrar nessa discussão. Muitos erros e acertos foram cometidos desde o início e a discussão proposta em “O espetáculo das raças” é apenas uma delas.


















Bibliografia

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O Espetáculo das Raças – cientistas, instituições e questão
racial no Brasil 1870-1930\. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
1Schwarcz, 1993, p. 98
2Schwarcz, 1993, p.137

Relatório do Livro: A Cidade de São Paulo – Geografia e História de Caio Prado Jr.


  1. Relatório do Livro: A Cidade de São Paulo – Geografia e História de Caio Prado Jr.

O livro A Cidade de São Paulo – Geografia e História de Caio prado Jr. Foi escrito durante os anos 50, mas alguns de seus aspectos continuam muito atuais. A obra é pequena fisicamente, está configurada em um livrinho de bolso de apenas 93 paginas, porém é muito rico em informações importantes e analise da historia da cidade de São Paulo. A obra percorre a historia dos então cerca de 400 anos da cidade desde sua fundação até os aspectos que a faziam crescer de uma forma muito rápida na época em que foi escrita.
Entre os aspectos que o autos nos expõe, há um em especial presente em quase todo a obra: o aspecto geográfico da cidade, fazendo da própria localização da cidade de São Paulo um objeto de grande importância para o entendimento de seu crecimento econômico e populacional.
Caio Prado Jr. explica que desde antes da ocupação portuguesa na região, durante o início da colonização brasileira, os indígenas conheciam muito bem o local onde posteriormente se ergueria a cidade de São Paulo. Era uma região de campos largos, com florestas no seu entorno que os portugueses logo chamariam de Campos de Piratininga. O encontro dos rios Tamanduateí e Pinheiros com o Tietê também facilitavam o povoamento além do transporte fluvial que era muito explorado na época. O autor salienta que o mesmo com o grande fluxo de transporte fluvial no rio Tietê e seus afluentes, o rio não era muito apropriado para a prática.
O autor expõe também, que São Paulo era um centro natural da província, sem esquecer a influencia dos jesuítas e a disputa com Santo André no inicio de sua colonização, mas geograficamente a cidade esta no centre de um “nó”, com varias pontas e cada ponta dá um acesso mais fácil para as regiões importantes da província, como Sorocaba, Campinas, o Vale do Paraíba e o Porto de Santos. Hoje em dia essa ideia ter de fácil acesso à essas regiões a partir de São Paulo ainda persiste, basta prestar atenção nas rotas que fazem as principais rodovias que saem de São Paulo e o fluxo de seus movimentos. Podemos dar um exemplo atual da rota do Rio Tietê, que hoje em dia a partir de sua nascente em Salesópolis, tem acesso pela Rod. Ayrton Senna, passa pela Marginal do Rio Tietê até encontrar chegar ou encontro com o rio Pinheiros no chamado “cebolão” e a rodovia Castelo Branco. Essa rota passa por importantes cidades e regiões atuais, como Guarulhos, Barueri, Osasco, Itu e Sorocaba, e dependendo da de onde se inicia e termina a rota, invariavelmente passará por dentro de São Paulo.
Então, o autor passa por diversas fases da historia de São Paulo dividindo-a em um pequeno povoado durante a colonização, passa pelo império já crescendo um pouco mais a partir do triangulo central da cidade formado pelas atuais ruas XV de Novembro, Direita e São Bento e chega nos primeiros anos do seculo XX durante a república como uma cidade já com algumas questões de “cidade grande”, como o grande povoamento, imigrações, o surgimento de uma classe operaria e seus movimentos e a construção de diversos prédios. Os bairros mais periféricos abrigavam principalmente os operários e a população mais pobre. Hoje em dia esses bairros cresceram e se transformaram em locais maiores que muitas cidades do próprio estado paulista, como Santana, Vila Mariana, Belém, entre outros.
Passado por diversas fases da cidade, Caio Prado Jr. levanta questões e passa pelos então 400 anos demonstrando linearmente e analisando passo a passo a evolução da cidade e suas relações com as regiões vizinhas. A importância do meio geográfico onde a cidade se situa, as vezes passa despercebido pelos historiadores, como o próprio Caio Prado Jr. comenta , demonstrando como é importante e possível a interdisciplinaridade e o quando isso enriquece a pesquisa histórica. 

Relatório do livro “Cotidiano e Cultura, Historia Cidade e Trabalho” de Maria Izilda Santos de Matos




Podemos dizer que a leitura a obra da professora Maria Izilda Santos de Matos, “Cotidiano e Cultura, Historia Cidade e Trabalho” ajudou muito no processo de confecção do projeto de pesquisa que estamos a realizar. A forma com que a autor descreve as relações do cotidiano, nos fazem lembrar sua importância para o entendimento delas para a pesquisa histórica após um recorte temporal e espacial.
A intenção do nosso trabalho de TCC, é estudar a presença de túmulos de industriais e operários no cemitério da Consolação no início do século XX, realizando a leitura de como foram deixadas as marcas da luta de classes por essas pessoas mesmo após as suas mortes. A trajetória de vida do operariado e dos industriais na cidade de São Paulo deixou marcas em diversas obras pela cidade: praças, edifícios, monumentos e, como não poderia deixar de ser, as histórias da cidade e desses grupos sociais muitas vezes chegam a fundir-se.
Atuando em vida na mesma atividadeo trabalho que em locais e estruturas sociais diferentes, operários e industriais perpetuam essas diferenças no Cemitério da Consolação: inscrições tumulares, localização na construção de seus túmulos, edificações encomendadas a arquitetos italianos revelam as fronteiras entre as classes e seus status sociais.
Com isso, a obra de Maria Izilda será de grande importância por mostrar o norte teórico e ajudar a buscar as fontes necessárias. A autora nos alerta sobre a dificuldade de escrever sobre o cotidiano, embora muitos historiadores já tenham aceitado esse desafio. O número de fontes para esse tipo de estudo também é muito grande, como a própria autora nos mostra:
Os estudos sobre o cotidiano trouxeram à luz uma diversidade de de documentações, um mosaico de pequenas referencias esparsas, que vão desde a legislação repressiva, fontes policiais ocorrências, processos-crime, ações de divorcio, até canções e musicas, provérbios, literaturas, cronistas, memorialistas e folcloristas, sem esquecer as correspondências, memórias, manifestos, diários e materiais iconográficos. Os jornais e a documentação oficial, cartorial e censos, não são descartados, bem como a História oral, que vem sendo utilizada intensamente e de maneira inovadora1.

Até então, nossa ideia era utilizar esculturas, formatos e obras tumulares que serão utilizadas como fonte histórica nesse trabalho, além das artes tumulares, em livros de inumação, bibliografia sobre o assunto, as quais assentarão as bases teóricas da pesquisa. Seriam utilizadas documentações sobre o local, as quais se encontram no Arquivo do Estado e no Arquivo Público Municipal Washington Luis. As fotos antigas do Cemitério da Consolação também seriam utilizadas como fonte histórica, além de notícias de jornais de época, materiais esses que se encontram na Biblioteca Mário de Andrade, como também eventuais entrevistas com funcionários e vizinhos do cemitério, bem como algumas das famílias que terão os jazigos analisados.
O referencial teórico da autora também impressiona, e utilizarei muitas dessas obras em minhas futuras pesquisas. A luta que pretendemos trabalhar nessa pesquisa para TCC é justamente a de Karl Marx e Friedrich Engels. Na obra Manifesto do Partido Comunista os autores colocam “A história de todas as sociedades até agora tem sido a história da luta de classe” (Marx e Engels, 2008 p.08) e logo à frente os autores falam sobre as lutas de classes na sociedade atual:
Nossa época, a época da burguesia caracteriza-se, contudo, por ter simplificado os antagonismos de classe. Toda a sociedade se divide cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em duas classes diretamente opostas: a burguesia e o proletariado2
São essas relações de poder dentro do campo cemiterial que pretendemos analisar: a luta de classes nos atos fúnebres e as relações entre a classe dominante e dominada dentro de um mesmo espaço geográfico. Essa análise baseada no pensamento de Marx e Engels será combinada às obras historiográficas que tratam sobre as representações e o imaginário social. Citando Ribeiro:
A transição dos sepultamentos dentro das igrejas para locais abertos não se faz rapidamente no Brasil. Essa resistência foi em grande parte motivada pela vaidade das elites, que nas igrejas se podia avaliar a importância social do falecido pela proximidade de seu túmulo em relação ao altar mor.3
Assim, uma leitura marxista será realizada sobre o imaginário da época no que diz respeito à morte e suas ritualizações, fazendo do cemitério um verdadeiro personagem histórico. A autora Sandra Jatahy Pesavento em sua obra História & História Cultural afirma que “o imaginário urbano, como todo imaginário, diz respeito a formas de percepção, identificação e atribuição de significados ao mundo” (Pesavento, 2005, p 78)
Sendo assim, essa luta de classes dentro do espaço cemiterial não aconteceria sem os significados atribuídos na ornamentação dos túmulos, o que torna necessário o diálogo entre a Historia Cultural e a Marxista que pretendemos utilizar ao decorrer do trabalho.
Até o momento, foi realizada a leitura de alguns livros do cemiteriólogo Eduardo Coelho Morgado Resende, inclusive da obra “Céu Aberto na Terra” a qual, entre outros eventos, narra a idealização e criação do cemitério da Consolação, além de aspectos geográficos de alguns dos cemitérios da cidade de São Paulo e região.
A pesquisa em outras bibliografias estão em andamento, como o volume 2 da coleção A Historia da Vida Privada no Brasil, onde são descritos a gênese de uma maior preocupação com a ritualização dos atos fúnebres da época e também dentro do próprio cemitério da Consolação, com a pesquisa realizada no local e análise de fotos dos túmulos que lá estão. Em breve pretende-se ampliar a pesquisa no Arquivo público municipal e no Arquivo do Estado, localizado na zona norte de São Paulo.
Ainda, será utilizada a dissertação de mestrado de Mirtes Timpanaro, chamada “A morte como memória: imigrantes nos cemitérios da Consolação e do Brás” que trata sobre os túmulos do imigrantes que vieram fazer a América, entre eles, os que conseguiram enriquecer, tornando-se industriais de grande sucesso em São Paulo no início do século XX. Esse trabalho será de grande ajuda pois a autora fala sobre alguns imigrantes que vieram para o cemitério da Consolação após a morte.

Bibliografia

Matos, Maria Izilda Santos. “Cotidiano e Cultura, Historia Cidade e Trabalho”. Edusc 2002
Pesavento, Sandra Jatahy. Historia e Historia cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

REZENDE, Eduardo Morgado Coelho. O céu aberto na terra. São Paulo; E.C.M. Rezende, 2006

RIibeiro, Josefina Eloína. Escultores italianos e sua contribuição à arte tumular paulistana. São Paulo, 1999.Tese de Doutorado defendida no Programa Pós-Graduação em História Social da FFLCH-USP. 2 v.p.25

Marx, Karl e Engels, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
1Matos, 2002 pg.29 e 30
2Marx e Engels, 2008, pagina 09
3 Ribeiro, 1999, página 25

domingo, 26 de fevereiro de 2012

11 de Setembro


  Os atentados de 11 de setembro marcaram a história americana e mundial no século XXI como Pearl Harbor no século XX. Foi entre outras coisas, o álibi para iniciar a “guerra contra o terrorismo” contra países muçulmanos a fim de assegurar seu controle sobre as fontes de petróleo. Mas não só isso serviu para legitimar o poder de um presidente após uma eleição conturbada.
Essa “guerra contra o terrorismo” aumentou o choque entre civilizações, culturas e serviu para criar um inimigo aos Estados Unidos tão grande, ou ainda maior do que a União Soviética na época da Guerra Fria, mas também criou um inimigo abstrato, que não era um Estado. Além do Afeganistão, que abrigava a Al Qaeda, outro alvo dos Estados Unidos foi o Iraque(que aparente mente não tem nenhuma conexão com a Al Qaeda nem o Afeganistão), o que reforça ainda mais a teoria que a guerra serviu para controlar as reservas de petróleo.
A criação de um medo contra os terroristas colocou os americanos em pânico, e o governo adotou uma série de medidas que reforçaram esse sentimento, criando um estado semelhante à Alemanha nazista, restringindo as liberdades dos cidadãos e deportando e prendendo cerca 1200 estrangeiros, muitos sem acusação prévia. Também houve uma mobilização dos Estados Unidos colocando o mundo contra ou a seu favor, sendo que os contrários a seus interesses seriam a favor dos terroristas, criando um clima semelhante ao da Guerra Fria. E George Bush, um homem primário, diferente de seu antecessor, Bill Clinton, não hesitou a violar leis do Direito Internacional transformando os Estados Unidos em seu governo na maior ameaça à paz e à segurança mundial.
Era também necessário criar novas missões para a CIA, que estava quase inativa desde a Guerra Fria, enquanto o FBI se expandia, sobretudo no Leste Europeu. Tanto o FBI, quanto a Cia, já tinham informações necessárias que levassem a crer que a qualquer momento os EUA fossem atacados por terroristas, como militantes de grupos islâmicos que faziam curso de aviação. Eleanor Hill, antiga Inspetora geral do Departamento de Defesa e chefe da equipe formada pelo comitê do Congresso para investigar as falhas que permitiram os ataques de 11 de setembro, e 1998 a agosto de 2001, a Cia e o FBI receberam informações dos interesses da Al Qaeda a atacar Washington e Nova York. Foi como se os houvesse uma manipulação dos ataques para instituir a ditadura planetária das grandes empresas e do capital financeiro com os Estados Unidos à frente.  

Causas da Primeira Guerra Mundial


    Pode-se dizer sob diversos aspectos, que Primeira Guerra mundial marcou a História e Geografia mundial. Nunca antes houveram tantas pessoas envolvidas numa guerra, as divisões geográficas dos paises envolvidos e suas colônias sofreram diversas mudanças. Foi um conflito com a participação das grandes potencias políticas da época, utilizando a capacidade produtiva de suas indústrias em grande escala marcando entre outras coisas, o fim de um período de estabilidade política chamado de Belle Époque.
Para buscar as origens da Primeira Guerra Mundial, voltamos a segunda metade do século XIX. Era uma época em que a produção industrial era maior do que se podia consumir, havia então uma busca por novos mercados consumidores o que explica uma nova expansão territorial e rivalidade econômica e política dos países industrializados. Era notório o domínio geográfico de países como a Inglaterra (que possuía o correspondente a 20% de terra firme do mundo em 1909), França e Bélgica, que possuíam diversas colônias na Ásia, África e Oceania. Alemanha e Itália por causa de suas unificações políticas tardias, entraram por ultimo nesse processo. Em 1914 (ano de início da guerra), 60% das terras e 65% da população mundial dependiam da Europa para se manter. Nessa época, nota-se uma europeização cultural dos territórios ocupados.
    A Alemanha criou diversos conflitos com países vizinhos que exerciam influencia em regiões estratégicas na África, pois os alemães se sentiam frustrados pelo país ter menos possessões que Inglaterra e França. Então o imperador Guilherme II organizou uma grande marinha, colocando em prática sua política agressiva para controlar militarmente suas colônias. Porém essas políticas não foram vistam com bons olhos pela Inglaterra, que viu ameaçada sua supremacia naval. Paralelamente à expansão colonial africana e asiática, a Alemanha buscava áreas de influência econômica no mediterrâneo e Império Otomano. Com a construção da estrada de ferro, Berlin-Bagdá (que passava por Constantinopla), os interesses alemães se chocaram com os interesses econômicos russos e ingleses para a região. Nas metas bélicas elaboradas pela Alemanha, contava um grande império bélico na Europa central e leste europeu, incluindo o controle dos povos eslavos, o que poderia servir para a realização de um sonho nacionalista alemão, o pan-germanismo, que visava a unificação do povo alemão e a submissão de regiões habitadas por várias etnias. Juntamente com os conflitos imperialistas, o nacionalismo foi à tônica da primeira guerra mundial.
Inicialmente o pan-germanismo era um movimento que visava unificar a Alemanha, juntando a população pela questão lingüística, segundo Humboldt, “a verdadeira pátria é a língua”, algo que era difícil numa Europa em que quase nunca as fronteiras geográficas coincidiam com as fronteiras lingüísticas. Com o chanceler Otto Von Bismarck na liderança prussiana e diversas políticas militares, a unificação alemã foi concretizada após a guerra franco-prussiana, tendo Guilherme I como imperador. Após a unificação, Bismarck criou um sistema de alianças, visando proteger o império alemão em expansão e garantindo a paz na Europa. Esse sistema de alianças visava principalmente excluir a possibilidade e uma aliança francesa com a Rússia para tentar readquirir territórios perdidos na guerra franco-prussiana, assim Bismarck criou alianças com todos os países, excluindo a própria França.
Entre os movimentos nacionalistas na Europa, além do pan-germanismo, podemos citar o pan-eslavismo(que visava a unificação dos povos de língua eslava e se chocava com o pan-germanismo pois muitos habitantes do império austro-húngaro tinham essa característica), pan-islamismo(que visava a unificação dos povos que pertenciam ao islamismo)e a Grande-Sérvia(que tinha como objetivo tornar a Sérvia em um país geograficamente maior).
    Com a morte de Guilherme I, em 1888, seu neto Guilherme II sobe ao poder e inicia uma série de políticas que contrariavam o governo anterior com análises diplomáticas imprudentes e impulsivas. Em 1890 Guilherme II demite Bismarck, o que significou o fim dos esforços diplomáticos para manter o equilíbrio europeu, desmoronando assim o sistema de alianças. Porém o novo imperador, criou uma nova aliança, agora com a Itália e Império Austro-Húngaro, chamado de Tríplice Aliança, se opondo á Tríplice Entende que era formada por Grã Bretanha, França e Rússia. Em 1898, Guilherme II fez um visita ao Oriente Médio (área estratégica para os interesses imperialistas e nacionalistas), num discurso contrário ao pan-islamismo, consegue concessão para construir a estrada de ferro Berlin-Bagdá(como foi dito anteriormente), que lhe daria controle sobre esses mercados, até então controlados por franceses, ingleses e russos. Em 1905, aproveitando a guerra russo-japonesa, a Alemanha se apodera dos Marrocos, percebendo que a França não contaria com o auxilio russo (nessa época já vigorava a aliança entre França e Rússia e os franceses queriam dominar os Marrocos pela importância geográfica da região tanto para seu comercio quanto para defesa de outras regiões que possuíam na África). O conflito cessou apenas com a conferência de Algeciras na Espanha em 1906, que confirmou a supremacia francesa na região e concedeu terras á Alemanha no sudoeste da África.
    Em 1908, o Império Austro-Húngaro, anexou a Bósnia e a Herzegovina (territórios de população eslava), contrariando os interesses sérvios e russos, criando um ambiente de conflito na região dos Bálcãs eclodindo guerras em 1912 e 1913. Em 1914, ocorreu o assassinato do herdeiro do império Austro-Húngaro, o Arquiduque Francisco Ferdinando em Sarajevo (capital da Bósnia e Herzegovina) por Gavrilo Princip, um estudante sérvio era ligado à organização pan-eslavista conhecida como Mão Negra. O arquiduque tinha planos de transformar a “Monarquia Dual” em “Monarquia Trial”, contrariando dos planos militantes do movimento nacionalista Grande-Sérvia e do pan-eslavismo.