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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Relatório do livro “Cotidiano e Cultura, Historia Cidade e Trabalho” de Maria Izilda Santos de Matos




Podemos dizer que a leitura a obra da professora Maria Izilda Santos de Matos, “Cotidiano e Cultura, Historia Cidade e Trabalho” ajudou muito no processo de confecção do projeto de pesquisa que estamos a realizar. A forma com que a autor descreve as relações do cotidiano, nos fazem lembrar sua importância para o entendimento delas para a pesquisa histórica após um recorte temporal e espacial.
A intenção do nosso trabalho de TCC, é estudar a presença de túmulos de industriais e operários no cemitério da Consolação no início do século XX, realizando a leitura de como foram deixadas as marcas da luta de classes por essas pessoas mesmo após as suas mortes. A trajetória de vida do operariado e dos industriais na cidade de São Paulo deixou marcas em diversas obras pela cidade: praças, edifícios, monumentos e, como não poderia deixar de ser, as histórias da cidade e desses grupos sociais muitas vezes chegam a fundir-se.
Atuando em vida na mesma atividadeo trabalho que em locais e estruturas sociais diferentes, operários e industriais perpetuam essas diferenças no Cemitério da Consolação: inscrições tumulares, localização na construção de seus túmulos, edificações encomendadas a arquitetos italianos revelam as fronteiras entre as classes e seus status sociais.
Com isso, a obra de Maria Izilda será de grande importância por mostrar o norte teórico e ajudar a buscar as fontes necessárias. A autora nos alerta sobre a dificuldade de escrever sobre o cotidiano, embora muitos historiadores já tenham aceitado esse desafio. O número de fontes para esse tipo de estudo também é muito grande, como a própria autora nos mostra:
Os estudos sobre o cotidiano trouxeram à luz uma diversidade de de documentações, um mosaico de pequenas referencias esparsas, que vão desde a legislação repressiva, fontes policiais ocorrências, processos-crime, ações de divorcio, até canções e musicas, provérbios, literaturas, cronistas, memorialistas e folcloristas, sem esquecer as correspondências, memórias, manifestos, diários e materiais iconográficos. Os jornais e a documentação oficial, cartorial e censos, não são descartados, bem como a História oral, que vem sendo utilizada intensamente e de maneira inovadora1.

Até então, nossa ideia era utilizar esculturas, formatos e obras tumulares que serão utilizadas como fonte histórica nesse trabalho, além das artes tumulares, em livros de inumação, bibliografia sobre o assunto, as quais assentarão as bases teóricas da pesquisa. Seriam utilizadas documentações sobre o local, as quais se encontram no Arquivo do Estado e no Arquivo Público Municipal Washington Luis. As fotos antigas do Cemitério da Consolação também seriam utilizadas como fonte histórica, além de notícias de jornais de época, materiais esses que se encontram na Biblioteca Mário de Andrade, como também eventuais entrevistas com funcionários e vizinhos do cemitério, bem como algumas das famílias que terão os jazigos analisados.
O referencial teórico da autora também impressiona, e utilizarei muitas dessas obras em minhas futuras pesquisas. A luta que pretendemos trabalhar nessa pesquisa para TCC é justamente a de Karl Marx e Friedrich Engels. Na obra Manifesto do Partido Comunista os autores colocam “A história de todas as sociedades até agora tem sido a história da luta de classe” (Marx e Engels, 2008 p.08) e logo à frente os autores falam sobre as lutas de classes na sociedade atual:
Nossa época, a época da burguesia caracteriza-se, contudo, por ter simplificado os antagonismos de classe. Toda a sociedade se divide cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em duas classes diretamente opostas: a burguesia e o proletariado2
São essas relações de poder dentro do campo cemiterial que pretendemos analisar: a luta de classes nos atos fúnebres e as relações entre a classe dominante e dominada dentro de um mesmo espaço geográfico. Essa análise baseada no pensamento de Marx e Engels será combinada às obras historiográficas que tratam sobre as representações e o imaginário social. Citando Ribeiro:
A transição dos sepultamentos dentro das igrejas para locais abertos não se faz rapidamente no Brasil. Essa resistência foi em grande parte motivada pela vaidade das elites, que nas igrejas se podia avaliar a importância social do falecido pela proximidade de seu túmulo em relação ao altar mor.3
Assim, uma leitura marxista será realizada sobre o imaginário da época no que diz respeito à morte e suas ritualizações, fazendo do cemitério um verdadeiro personagem histórico. A autora Sandra Jatahy Pesavento em sua obra História & História Cultural afirma que “o imaginário urbano, como todo imaginário, diz respeito a formas de percepção, identificação e atribuição de significados ao mundo” (Pesavento, 2005, p 78)
Sendo assim, essa luta de classes dentro do espaço cemiterial não aconteceria sem os significados atribuídos na ornamentação dos túmulos, o que torna necessário o diálogo entre a Historia Cultural e a Marxista que pretendemos utilizar ao decorrer do trabalho.
Até o momento, foi realizada a leitura de alguns livros do cemiteriólogo Eduardo Coelho Morgado Resende, inclusive da obra “Céu Aberto na Terra” a qual, entre outros eventos, narra a idealização e criação do cemitério da Consolação, além de aspectos geográficos de alguns dos cemitérios da cidade de São Paulo e região.
A pesquisa em outras bibliografias estão em andamento, como o volume 2 da coleção A Historia da Vida Privada no Brasil, onde são descritos a gênese de uma maior preocupação com a ritualização dos atos fúnebres da época e também dentro do próprio cemitério da Consolação, com a pesquisa realizada no local e análise de fotos dos túmulos que lá estão. Em breve pretende-se ampliar a pesquisa no Arquivo público municipal e no Arquivo do Estado, localizado na zona norte de São Paulo.
Ainda, será utilizada a dissertação de mestrado de Mirtes Timpanaro, chamada “A morte como memória: imigrantes nos cemitérios da Consolação e do Brás” que trata sobre os túmulos do imigrantes que vieram fazer a América, entre eles, os que conseguiram enriquecer, tornando-se industriais de grande sucesso em São Paulo no início do século XX. Esse trabalho será de grande ajuda pois a autora fala sobre alguns imigrantes que vieram para o cemitério da Consolação após a morte.

Bibliografia

Matos, Maria Izilda Santos. “Cotidiano e Cultura, Historia Cidade e Trabalho”. Edusc 2002
Pesavento, Sandra Jatahy. Historia e Historia cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.

REZENDE, Eduardo Morgado Coelho. O céu aberto na terra. São Paulo; E.C.M. Rezende, 2006

RIibeiro, Josefina Eloína. Escultores italianos e sua contribuição à arte tumular paulistana. São Paulo, 1999.Tese de Doutorado defendida no Programa Pós-Graduação em História Social da FFLCH-USP. 2 v.p.25

Marx, Karl e Engels, Friedrich. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
1Matos, 2002 pg.29 e 30
2Marx e Engels, 2008, pagina 09
3 Ribeiro, 1999, página 25

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