Podemos dizer que a leitura a obra da
professora Maria Izilda Santos de Matos, “Cotidiano e Cultura,
Historia Cidade e Trabalho” ajudou muito no processo de confecção
do projeto de pesquisa que estamos a realizar. A forma com que a
autor descreve as relações do cotidiano, nos fazem lembrar sua
importância para o entendimento delas para a pesquisa histórica
após um recorte temporal e espacial.
A
intenção
do
nosso trabalho de TCC, é
estudar
a
presença
de
túmulos
de
industriais
e
operários
no
cemitério
da
Consolação
no
início
do
século
XX,
realizando
a
leitura
de
como
foram
deixadas
as
marcas
da
luta
de
classes
por
essas
pessoas
mesmo
após
as
suas
mortes.
A
trajetória
de
vida
do
operariado
e
dos
industriais
na
cidade
de
São
Paulo
deixou
marcas
em
diversas
obras
pela
cidade:
praças,
edifícios,
monumentos
e,
como
não
poderia
deixar
de
ser,
as
histórias
da
cidade
e
desses
grupos
sociais
muitas
vezes
chegam
a
fundir-se.
Atuando
em
vida
na
mesma
atividade
– o
trabalho
– só
que
em
locais
e
estruturas
sociais
diferentes,
operários
e
industriais
perpetuam
essas
diferenças
no
Cemitério
da
Consolação:
inscrições
tumulares,
localização
na
construção
de
seus
túmulos,
edificações
encomendadas
a
arquitetos
italianos
revelam
as
fronteiras
entre
as
classes
e
seus
status
sociais.
Com isso, a obra de Maria Izilda será
de grande importância por mostrar o norte teórico e ajudar a buscar
as fontes necessárias. A autora nos alerta sobre a dificuldade de
escrever sobre o cotidiano, embora muitos historiadores já tenham
aceitado esse desafio. O número de fontes para esse tipo de estudo
também é muito grande, como a própria autora nos mostra:
Os estudos sobre o cotidiano
trouxeram à luz uma diversidade de de documentações, um mosaico de
pequenas referencias esparsas, que vão desde a legislação
repressiva, fontes policiais ocorrências, processos-crime, ações
de divorcio, até canções e musicas, provérbios, literaturas,
cronistas, memorialistas e folcloristas, sem esquecer as
correspondências, memórias, manifestos, diários e materiais
iconográficos. Os jornais e a documentação oficial, cartorial e
censos, não são descartados, bem como a História oral, que vem
sendo utilizada intensamente e de maneira inovadora1.
Até então, nossa ideia era utilizar
esculturas,
formatos
e
obras
tumulares
que
serão
utilizadas
como
fonte
histórica
nesse
trabalho,
além
das
artes
tumulares,
em
livros
de
inumação,
bibliografia
sobre
o
assunto,
as
quais
assentarão
as
bases
teóricas
da
pesquisa. Seriam
utilizadas
documentações
sobre
o
local,
as
quais
se
encontram
no
Arquivo
do
Estado
e
no
Arquivo
Público
Municipal
Washington
Luis.
As
fotos
antigas
do
Cemitério
da
Consolação
também
seriam
utilizadas
como
fonte
histórica,
além
de
notícias
de
jornais
de
época,
materiais
esses
que
se
encontram
na
Biblioteca
Mário
de
Andrade, como também
eventuais
entrevistas
com
funcionários
e
vizinhos
do
cemitério,
bem
como
algumas
das
famílias
que
terão
os
jazigos
analisados.
O referencial teórico da autora
também impressiona, e utilizarei muitas dessas obras em minhas
futuras pesquisas. A luta que pretendemos trabalhar nessa pesquisa
para TCC é justamente a de Karl Marx e Friedrich Engels. Na obra
Manifesto do Partido Comunista os autores colocam “A história de
todas as sociedades até agora tem sido a história da luta de
classe” (Marx e Engels, 2008 p.08) e logo à frente os autores
falam sobre as lutas de classes na sociedade atual:
“Nossa
época,
a
época
da
burguesia
caracteriza-se,
contudo,
por
ter
simplificado
os
antagonismos
de
classe.
Toda
a
sociedade
se
divide
cada
vez
mais
em
dois
grandes
campos
inimigos,
em
duas
classes
diretamente
opostas:
a
burguesia
e
o
proletariado”
2
São essas relações de poder
dentro do campo cemiterial que pretendemos analisar: a luta de
classes nos atos fúnebres e as relações entre a classe dominante e
dominada dentro de um mesmo espaço geográfico. Essa análise
baseada no pensamento de Marx e Engels será combinada às obras
historiográficas que tratam sobre as representações e o imaginário
social. Citando Ribeiro:
“A
transição
dos
sepultamentos
dentro
das
igrejas
para
locais
abertos
não
se
faz
rapidamente
no
Brasil.
Essa
resistência
foi
em
grande
parte
motivada
pela
vaidade
das
elites,
já
que
nas
igrejas
se
podia
avaliar
a
importância
social
do
falecido
pela
proximidade
de
seu
túmulo
em
relação
ao
altar
mor.”3
Assim,
uma leitura
marxista será
realizada sobre
o imaginário
da época
no que
diz respeito
à morte
e suas
ritualizações, fazendo do cemitério um
verdadeiro personagem histórico. A autora Sandra Jatahy Pesavento em
sua obra História & História Cultural afirma que “o
imaginário urbano, como todo imaginário, diz respeito a formas de
percepção, identificação e atribuição de significados ao mundo”
(Pesavento, 2005, p 78)
Sendo assim, essa luta de classes
dentro do espaço cemiterial não aconteceria sem os significados
atribuídos na ornamentação dos túmulos, o que torna necessário o
diálogo entre a Historia Cultural e a Marxista que pretendemos
utilizar ao decorrer do trabalho.
Até o momento, foi realizada a
leitura de alguns livros do cemiteriólogo Eduardo Coelho Morgado
Resende, inclusive da obra “Céu Aberto na Terra” a qual, entre
outros eventos, narra a idealização e criação do cemitério da
Consolação, além de aspectos geográficos de alguns dos cemitérios
da cidade de São Paulo e região.
A pesquisa em outras bibliografias
estão em andamento, como o volume 2 da coleção A Historia da Vida
Privada no Brasil, onde são descritos a gênese de uma maior
preocupação com a ritualização dos atos fúnebres da época e
também dentro do próprio cemitério da Consolação, com a pesquisa
realizada no local e análise de fotos dos túmulos que lá estão.
Em breve pretende-se ampliar a pesquisa no Arquivo público municipal
e no Arquivo do Estado, localizado na zona norte de São Paulo.
Ainda, será utilizada a dissertação
de mestrado de Mirtes Timpanaro, chamada “A morte como memória:
imigrantes nos cemitérios da Consolação e do Brás” que trata
sobre os túmulos do imigrantes que vieram fazer a América, entre
eles, os que conseguiram enriquecer, tornando-se industriais de
grande sucesso em São Paulo no início do século XX. Esse trabalho
será de grande ajuda pois a autora fala sobre alguns imigrantes que
vieram para o cemitério da Consolação após a morte.
Bibliografia
Matos, Maria Izilda Santos. “Cotidiano
e Cultura, Historia Cidade e Trabalho”. Edusc 2002
Pesavento, Sandra Jatahy. Historia e
Historia cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
REZENDE, Eduardo Morgado Coelho. O céu
aberto na terra. São Paulo; E.C.M. Rezende, 2006
RIibeiro, Josefina Eloína. Escultores
italianos e sua contribuição à arte tumular paulistana. São
Paulo, 1999.Tese de Doutorado defendida no Programa Pós-Graduação
em História Social da FFLCH-USP. 2 v.p.25
Marx, Karl e Engels, Friedrich.
Manifesto do partido comunista. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
1Matos,
2002 pg.29 e 30
2Marx
e Engels, 2008, pagina 09
Nenhum comentário:
Postar um comentário