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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Resenha do livro A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia de Peter Burke


Introdução

O presente trabalho trata sobre a resenha do livro A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da Historiografia, cujo autor é o historiador inglês Peter Burke. Nesta obra, Burke aborda os diversos aspectos envolvendo a Escola dos Annales e as influências trazidas para o campo da historiografia, traçando uma ordem cronológica e definindo as principais diretrizes e influências historiográficas que nortearam o grupo dos Annales.
O surgimento da escola dos Annales se por meio de um grupo de historiadores franceses que criticavam a forma como o conhecimento histórico era produzido até o início do seculo XX, e propuseram a interdisciplinaridade da historia com diversas áreas do conhecimento humano, como a geografia, sociologia, psicologia e antropologia. Peter Burke chega a citar que... da produção intelectual, no campo da historiografia, no século XX, uma importante parcela do que existe de mais inovador, notável e significativo, origina-se da França(Burke, p.8). Liderados pelos então docentes da Universidade de Estrasburgo, Marc Bloch e Lucien Febvre, esse grupo de historiadores fundou a revista Annales dhistorie économique et sociale, em 1929, dando inicio assim à, como diz Burke no título de seu livro, A Revolução Francesa da Historiografia.

As gerações dos Annales e abordagens propostas

De acordo com o autor, Febvre idealizou o projeto de criar uma revista dedicada à historia econômica logo após a Primeira Guerra Mundial, mas o projeto foi inicialmente abandonado e apenas retomado em 1928. O autor divide o grupo dos Annales em três gerações, a primeira que inicia a revista sob a batuta de Marc Bloch e Lucien Febvre em 1929, até a morte de Febvre em 1956, num período marcado pela guerra radical contra a historiografia tradicional, que excluía todo tipo de história não política e dava ênfase a fontes de arquivos. A segunda geração dura perto de trinta anos, liderada por Fernand Braudel, faz com que os Annales se aproximem mais de uma verdadeira escola, com a criação de conceitos e métodos; e uma terceira geração de poder fragmentado, que aproxima do que costumamos chamar de Nova História ou Historia Cultural até 1989, quando Burke finaliza sua obra.
É interessante perceber que, como em outros seguimentos da sociedade, algumas dessas diretrizes mudam ao conforme as mudanças de comando do grupo dos Annales.
Podemos citar entre as diversas inovações dos Annales, sua forma pioneira em pesquisas de abordagem do estudo de estruturas históricas de longa duração para explicar eventos e transformações políticas, também outras formas de pesquisa histórica como a Historia do Imaginário, Nova História e a Historia Quantitativa, que incluía várias tabelas e gráficos de diversos tipos de dados como os demográficos e econômicos dentro da pesquisa histórica. Podemos também destacar a inclusão de novos agentes históricos, tendo como base a crítica da História positivista do século XIX.
Peter Burke, mesmo com toda sua simpatia ao grupo dos Annales, nos lembra que havia outros grupos de historiadores com uma ótima produção intelectual na própria França e resto da Europa, chegando a falar em “grupos paralelos”. Burke revela até que alguns métodos utilizados pelos Annales não chegavam a ser inéditos, porém o autor não hesita em dizer que:
As contribuições de Bloch, Febvre, Braudel e seus seguidores foram mais longe do que as de qualquer outro pesquisador ou grupo de pesquisadores na concretização desses objetivos comuns e em liderarem um movimento que se difundiu mais extensamente e por mais tempo do que o de seus competidores1
Uma obra muito citada por Peter Burke durante o livro é O Mediterrâneo de Fernand Braudel, que surgiu de sua tese de doutorado e representou muito para os Annales, principalmente no que se refere à pesquisa geo-histórica da região e o estudo das mentalidades de longa duração. Segundo Burke, tal obrafoi projetada originalmente como um estudo sobre Felipe II e o Mediterrâneo, em outras palavras, uma análise da política externa do soberano(Burke, p.31).
Com a tentativa de fazer de sua forma de escrever sobre História a mais ampla possível, até chamando de “história total”, Braudel foi alvo de diversas críticas, inclusive sobre suas experiências em incluir elementos geográficos em seus estudos históricos. Nesse livro que se tornou um épico, Braudel divide o tempo em geográfico, social e individual, realçando a longa duração. Muitos geógrafos o criticavam por não ser um geógrafo de ofício, porém, Peter Burke o defende dizendo que “Braudel contribuiu mais do que qualquer outro historiador deste século para transformar nossas noções de tempo e espaço”(Burke, p.37 – 38). Nesse tempo em que Braudel exerceu sua liderança, a história das mentalidades ficou marginalizada.
Durante sua liderança nos Annales, Fernand Braudel é apontado pelo próprio Peter Burke como “não apenas o mais importante historiador francês, mas também o mais poderoso” (Burke, p.39). Segundo Burke, foi Braudel quem promoveu uma inclusão significativa de novos historiadores no grupo no final da década de 1960: nomes como Jacques LeGoff e Marc Ferro, iniciaram sob a orientação de Braudel o que viria a se transformar na terceira geração dos Annales.
É essa chamada terceira geração dos Annales que retoma uma série valores históricos que tinham sido deixados de lado principalmente por Febvre e Braudel, como a historia política e a narrativa. Burke em certo momento diz que “... Febvre e Braudel podem não ter ignorado a história política, mas não a tomaram muito a sério. O retorno à política na terceira geração é uma reação contra Braudel e também contra outras formas de determinismo” (Burke, p. 72). Nessa época temos o surgimento de historiadores como Áries que pesquisa sobre a ideia de “infância” na Idade Média e Michelle Perrot que escreve a historia do trabalho e da mulher, além de outros grandes nomes como Jacques LeGoff e Georges Duby.
As abordagens utilizadas pela terceira geração dos Annales também tem destaque no livro de Burke, como a Psico-Historia, Ideologias e Imaginário Social e a volta da Historia das Mentalidades, Historia Política e da Narrativa.

A influência dos Annales

Todas essas formas de ver a historiografia proposta pelos Annales não ficaram presas apenas à França. Peter Burke nos lembra que é possível perceber a influência dos Annales em outras regiões até antes da Segunda Guerra Mundial, quando a revista ainda estava no seu início. Podemos dizer que durante a fase em que os Annales foram dirigidos por Braudel essa influência se tornou muito mais evidente e o movimento ficou conhecido em toda a Europa.
Na Ásia e América do Norte a propagação do movimento dos Annales é bem menor, embora seja possível perceber sua influência em algumas obras. Segundo Burke, as ideias dos Annales foram muito mais aceitas nas outras Américas, ele mesmo cita que “na América Central e do Sul, a história é bem diferente. No Brasil, as aulas de Braudel, na Universidade de São Paulo, nos anos 30, são ainda lembradas” (Burke, p.82)
Não só no campo da historiografia o grupo dos Annales tiveram sua influência, Burke outras áreas do conhecimento humano que se atraíram pelo grupo. Em dado momento, Burke afirma:
Na altura dos anos 70, se não mesmo antes, era possível encontrar arqueólogos e economistas lendo Braudel a respeito decultura material, pediatras discutindo os pontos de vista de Ariès sobre a história da infância, e folcloristas escandinavos debatendo lendas folclóricas com Le Roy Ladurie. Alguns historiadores da arte e críticos literários, especialmente nos Estados Unidos, citam também os historiadores dos Annales em seu próprio trabalho, que consideram, como parte de um empreendimento comum, algumas vezes descrito como umaantropologia literáriaou uma antropologia dacultura visual.2

Considerações Finais

A leitura da obra de Burke nos uma perspectiva geral sobre o que foi a Escola dos Annales. Embora em alguns momentos possa parecer tendencioso, o livro narra a historia da historiografia francesa e nos mostra as influências que as outras regiões do mundo e outras disciplinas sofreram em sua consequência.
É um bom livro para quem quer iniciar o estudo do grupo dos Annales, pois trata algumas biografias de seus membros, ainda que superficialmente, e cita uma serie de obras ligadas ao movimento.


Bibliografia

Burke, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929-1989 / Peter Burke; tradução Nilo Odália. – São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1991.

1Burke, p. 86
2Burke, p. 83

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Resenha do Texto: Contra o inimigo comum.



Introdução

O capitulo escolhido para a resenha no presente trabalho, é o “Contra o inimigo comum” do livro Era dos Extremos, do historiador inglês Eric Hoobsbawm. O livro trata do que o autor chama de “o breve seculo XX”, fazendo um recorte temporal entre 1914 e 1991, tratando assim de diversos temas. O capitulo escolhido é o que Hoobsbawm disserta sobre a Segunda Guerra Mundial, na qual o autor elege como um momento em que comunistas e capitalistas liberais elegem como seu inimigo maior no momento o bloco nazifascista liderado pela Itália e Alemanha.
Segundo Hoobsbawm, o mundo, antes da Segunda Guerra Mundial, via o crescimento do fenômeno nazifascista, na Europa. A ascensão de Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália e Franco na Espanha, principalmente o Fürer alemão e sua vontade de conquistar novos territórios, alertava a iminência de um novo conflito no continente.

As politicas de alianças e apaziguamento na Europa

Eric Hoobsbawm, ao longo do capítulo do livro Era das revoluções, nos mostra um desenrolar de acontecimentos, propagandas, acordos e mais uma série de fatores que fez do fascismo o grande inimigo das potências nos anos 1930. O alinhamento dos Estados Unidos e União Soviética, na segunda guerra mundial é um fenômeno abordado pelo autor. Logo no início do capítulo resenhado, o autor trabalha com uma pesquisa feita em solo estadunidense em que os cidadãos preferem se alinhar com os comunistas do que com os fascistas. Isso pode ser explicado pelo fato de que os fascistas e os nazistas tinham pretensões politicas que se chocavam com as dos liberais capitalistas e dos comunistas. Vale lembrar que com a derrota dos fascistas, os capitalistas e comunistas se tornaram inimigos mortais até o fim da guerra fria.
Outra situação que Hoobsbawn nos chama a atenção é a da França e Inglaterra. Devastados economicamente e psicologicamente pela primeira grande guerra, os dois países, principalmente a Inglaterra, realizam diversas tentativas de manter a paz em solo Europeu, pois não teriam condições de entrar em mais uma guerra de grandes proporções em um espaço tão curto de tempo. Entre essas tentativas de manter a paz na Europa, estavam uma série de concessões aos avanços alemães, entre elas, a Conferência de Munique em 1939, onde foiautorizadaa invasão da Tchecoslováquia pela Alemanha, que demonstrava o grande medo britânico sobre uma nova guerra, foi à última esperança para satisfazer Hitler. Mesmo quando a Alemanha invade a Polônia, a própria Inglaterra ainda tentaria um acordo diplomático, mas a política de Hitler impossibilitara o apaziguamento e mesmo contrariando suas vontades, os estadistas de Inglaterra e França declaram guerra à Alemanha.
Até Stálin chegou a firmar um pacto de não agressão com Hitler, quem sabe numa tentativa de terminar uma iminente guerra mais fortalecido, já que as outras potências mundiais estariam enfraquecidas depois de lutarem entre si. Mas qualquer pacto de paz entre União Soviética e Alemanha seria quebrado após a ofensiva alemã aos soviéticos em 1941.
Guerra Civil Espanhola
Outro momento que Hoobsbawm trata com mais profundidade durante o capítulo é o caso da guerra civil na Espanha, entre 1936 e 1939. Segundo o autor esse teria sido um conflito que mesmo tendo acontecido dentro de apenas um país e que não teve consequências mundiais tão graves, foi um espelho do que acontecia na Europa.
Esse pensamento pode ser explicado pelo falo de que mesmo o General Franco não podendo ser classificado como fascista, ele e seu grupo, a Falange, foram apoiados durante a guerra pelas direitas mais conservadores e também por fascistas de outros países, como Hitler e Mussolini apoiando o golpe militar sobre o governo constitucional. Do outro lado, o não intervencionismo de França e Inglaterra e um exercito amador formado por comunistas e anarquistas vindo de diversas partes da Europa para lutar por uma causa e dispostos a ar a vida por ela.

Um conflito mundial

Moldadas as forças durante a guerra civil espanhola e a entrada dos Estados Unidos no conflito transformou a Segunda Guerra em um evento mundial. O autor também nos lembra que ao lado dos governantes de França e Inglaterra estavam os comunistas locais. Muitos desses membros civis fizeram parte de exércitos amadores de resistência armada contra os fascistas durante a guerra. A necessidade de grandes mudanças sociais somada a essa luta dos comunistas contribuiu para o aumento em massa de simpatizantes da esquerda no pós guerra pelo mundo e principalmente na Europa. Como exemplos desse fenômeno, podemos falar da Inglaterra mesmo, pois lá o Partido Trabalhista venceu Churchill nas eleições após a guerra e a esquerda italiana que também ganhou muita força a partir de 1945.
Não se pode esquecer também do Japão. Esse país asiático se uniu à Alemanha e Itália por meio de ideias em comum de ultranacionalismo e lutou contra as forças comunistas chinesas na Asia e até atacou os Estados Unidos em Pearl Harbour.

Configuração mundial no pós guerra

Como se pode perceber, com a derrota do Eixo, o fascismo continuou a fascinar poucos adeptos pelo mundo. Na Alemanha e Japão onde havia se lutado com uma grande lealdade, ficaram apenas algumas lembranças. Na Itália ainda alguns simpatizantes de Mussolini continuaram a levantar a bandeira de uma especie de neo fascismo.
No mundo pós-1945, com o final da grande guerra, quase todos os Estados acreditaram na administração e no planejamento da economia pelo Estado e levados a uma era de milagres econômicos, diversos governos capitalistas estavam convencidos de que só intervenções econômico podia impedir um retorno às catástrofes econômicas do entre guerras e evitar os perigos políticos do crescimento de grupos com pessoas radicalizadas com uma causa. Muitos estadistas de países do novo “Terceiro Mundo”, que nada mais eram que países capitalistas mais atrasados, ou ainda subdesenvolvidos, acreditavam que só a ação política podia tirar suas economias do atraso e dependência. A União Soviética e seus seguidores acreditavam no planejamento central e inspiravam a fração do mundo descolonizado.
Eram assim conhecidas as três regiões do mundo no pós-guerra com a convicção de que a vitória sobre o Eixo, conseguida através de mobilização política abria uma nova era de transformações sociais. Dessa forma, como não não havia mais um fascismo para os unir, capitalismo e comunismo, e mais uma vez se prepararam para enfrentar um ao outro dando inicio a uma nova fase da História conhecida por Guerra Fria.