Introdução
O
presente
trabalho
trata
sobre
a
resenha
do
livro
A
Escola
dos
Annales
(1929-1989):
a
Revolução
Francesa
da
Historiografia,
cujo
autor
é
o
historiador
inglês
Peter
Burke.
Nesta
obra,
Burke
aborda
os
diversos
aspectos
envolvendo
a
Escola
dos
Annales
e
as
influências
trazidas
para
o
campo
da
historiografia,
traçando
uma
ordem
cronológica
e
definindo
as
principais
diretrizes
e
influências
historiográficas
que
nortearam
o
grupo
dos
Annales.
O
surgimento
da
escola
dos
Annales
se
dá
por
meio
de
um
grupo
de
historiadores
franceses
que
criticavam
a
forma
como
o
conhecimento
histórico
era
produzido
até
o
início
do
seculo
XX,
e
propuseram
a
interdisciplinaridade
da
historia
com
diversas
áreas
do
conhecimento
humano,
como
a
geografia,
sociologia,
psicologia
e
antropologia.
Peter
Burke
chega
a
citar
que
“...
da
produção
intelectual,
no
campo
da
historiografia,
no
século
XX,
uma
importante
parcela
do
que
existe
de
mais
inovador,
notável
e
significativo,
origina-se
da
França”
(Burke,
p.8).
Liderados
pelos
então
docentes
da
Universidade
de
Estrasburgo,
Marc
Bloch
e
Lucien
Febvre,
esse
grupo
de
historiadores
fundou
a
revista
Annales
d’historie
économique
et
sociale,
em
1929,
dando
inicio
assim
à,
como
diz
Burke
no
título
de
seu
livro,
A
Revolução
Francesa
da
Historiografia.
As gerações dos Annales e
abordagens propostas
De
acordo
com
o
autor,
Febvre
idealizou
o
projeto
de
criar
uma
revista
dedicada
à
historia
econômica
logo
após
a
Primeira
Guerra
Mundial,
mas
o
projeto
foi
inicialmente
abandonado
e
apenas
retomado
em
1928.
O
autor
divide
o
grupo
dos
Annales
em
três
gerações,
a
primeira
que
inicia
a
revista
sob
a
batuta
de
Marc
Bloch
e
Lucien
Febvre
em
1929,
até
a
morte
de
Febvre
em
1956,
num
período
marcado
pela
guerra
radical
contra
a
historiografia
tradicional,
que
excluía
todo
tipo
de
história
não
política
e
dava
ênfase
a
fontes
de
arquivos.
A
segunda
geração
dura
perto
de
trinta
anos,
liderada
por
Fernand
Braudel,
faz
com
que
os
Annales
se
aproximem
mais
de
uma
verdadeira
escola,
com
a
criação
de
conceitos
e
métodos;
e
uma
terceira
geração
de
poder
fragmentado,
que
aproxima
do
que
costumamos
chamar
de
Nova
História
ou
Historia
Cultural
até
1989,
quando
Burke
finaliza
sua
obra.
É interessante perceber que, como em
outros seguimentos da sociedade, algumas dessas diretrizes mudam ao
conforme as mudanças de comando do grupo dos Annales.
Podemos citar entre as diversas
inovações dos Annales, sua forma pioneira em pesquisas de abordagem
do estudo de estruturas históricas de longa duração para explicar
eventos e transformações políticas, também outras formas de
pesquisa histórica como a Historia do Imaginário, Nova História e
a Historia Quantitativa, que incluía várias tabelas e gráficos de
diversos tipos de dados como os demográficos e econômicos dentro da
pesquisa histórica. Podemos também destacar a inclusão de novos
agentes históricos, tendo como base a crítica da História
positivista do século XIX.
Peter Burke, mesmo com toda sua
simpatia ao grupo dos Annales, nos lembra que havia outros grupos de
historiadores com uma ótima produção intelectual na própria
França e resto da Europa, chegando a falar em “grupos paralelos”.
Burke revela até que alguns métodos utilizados pelos Annales não
chegavam a ser inéditos, porém o autor não hesita em dizer que:
“As
contribuições
de
Bloch,
Febvre,
Braudel
e
seus
seguidores
foram
mais
longe
do
que
as
de
qualquer
outro
pesquisador
ou
grupo
de
pesquisadores
na
concretização
desses
objetivos
comuns
e
em
liderarem
um
movimento
que
se
difundiu
mais
extensamente
e
por
mais
tempo
do
que
o
de
seus
competidores”1
Uma
obra
muito
citada
por
Peter
Burke
durante
o
livro
é
O
Mediterrâneo
de
Fernand
Braudel,
que
surgiu
de
sua
tese
de
doutorado
e
representou
muito
para
os
Annales,
principalmente
no
que
se
refere
à
pesquisa
geo-histórica
da
região
e
o
estudo
das
mentalidades
de
longa
duração.
Segundo
Burke,
tal
obra
“foi
projetada
originalmente
como
um
estudo
sobre
Felipe
II
e
o
Mediterrâneo,
em
outras
palavras,
uma
análise
da
política
externa
do
soberano”(Burke,
p.31).
Com a tentativa de fazer de sua forma
de escrever sobre História a mais ampla possível, até chamando de
“história total”, Braudel foi alvo de diversas críticas,
inclusive sobre suas experiências em incluir elementos geográficos
em seus estudos históricos. Nesse livro que se tornou um épico,
Braudel divide o tempo em
geográfico, social e individual, realçando a longa duração.
Muitos geógrafos o criticavam por não ser um geógrafo de ofício,
porém, Peter Burke o defende dizendo que “Braudel contribuiu mais
do que qualquer outro historiador deste século para transformar
nossas noções de tempo e espaço”(Burke, p.37 – 38). Nesse
tempo em que Braudel exerceu sua liderança, a história das
mentalidades ficou marginalizada.
Durante sua liderança nos Annales,
Fernand Braudel é apontado pelo próprio Peter Burke como “não
apenas o mais importante historiador francês, mas também o mais
poderoso” (Burke, p.39). Segundo Burke, foi Braudel quem promoveu
uma inclusão significativa de novos historiadores no grupo no final
da década de 1960: nomes como Jacques LeGoff e Marc Ferro, iniciaram
sob a orientação de Braudel o que viria a se transformar na
terceira geração dos Annales.
É essa chamada terceira geração
dos Annales que retoma uma série valores históricos que tinham sido
deixados de lado principalmente por Febvre e Braudel, como a historia
política e a narrativa. Burke em certo momento diz que “... Febvre
e Braudel podem não ter ignorado a história política, mas não a
tomaram muito a sério. O retorno à política na terceira geração
é uma reação contra Braudel e também contra outras formas de
determinismo” (Burke, p. 72). Nessa época temos o surgimento de
historiadores como Áries que pesquisa sobre a ideia de “infância”
na Idade Média e Michelle Perrot que escreve a historia do trabalho
e da mulher, além de outros grandes nomes como Jacques LeGoff e
Georges Duby.
As abordagens utilizadas pela
terceira geração dos Annales também tem destaque no livro de
Burke, como a Psico-Historia, Ideologias e Imaginário Social e a
volta da Historia das Mentalidades, Historia Política e da
Narrativa.
A influência dos Annales
Todas essas formas de ver a
historiografia proposta pelos Annales não ficaram presas apenas à
França. Peter Burke nos lembra que é possível perceber a
influência dos Annales em outras regiões até antes da Segunda
Guerra Mundial, quando a revista ainda estava no seu início. Podemos
dizer que durante a fase em que os Annales foram dirigidos por
Braudel essa influência se tornou muito mais evidente e o movimento
ficou conhecido em toda a Europa.
Na Ásia e América do Norte a
propagação do movimento dos Annales é bem menor, embora seja
possível perceber sua influência em algumas obras. Segundo Burke,
as ideias dos Annales foram muito mais aceitas nas outras Américas,
ele mesmo cita que “na América Central e do Sul, a história é
bem diferente. No Brasil, as aulas de Braudel, na Universidade de São
Paulo, nos anos 30, são ainda lembradas” (Burke, p.82)
Não só no campo da historiografia o
grupo dos Annales tiveram sua influência, Burke outras áreas do
conhecimento humano que se atraíram pelo grupo. Em dado momento,
Burke afirma:
“Na
altura
dos
anos
70,
se
não
mesmo
antes,
era
possível
encontrar
arqueólogos
e
economistas
lendo
Braudel
a
respeito
de
“cultura
material”,
pediatras
discutindo
os
pontos
de
vista
de
Ariès
sobre
a
história
da
infância,
e
folcloristas
escandinavos
debatendo
lendas
folclóricas
com
Le
Roy
Ladurie.
Alguns
historiadores
da
arte
e
críticos
literários,
especialmente
nos
Estados
Unidos,
citam
também
os
historiadores
dos
Annales
em
seu
próprio
trabalho,
que
consideram,
como
parte
de
um
empreendimento
comum,
algumas
vezes
descrito
como
uma
“antropologia
literária”
ou
uma
antropologia
da
“cultura
visual”.2
Considerações Finais
A
leitura
da
obra
de
Burke
nos
dá
uma
perspectiva
geral
sobre
o
que
foi
a
Escola
dos
Annales.
Embora
em
alguns
momentos
possa
parecer
tendencioso,
o
livro
narra
a
historia
da
historiografia
francesa
e
nos
mostra
as
influências
que
as
outras
regiões
do
mundo
e
outras
disciplinas
sofreram
em
sua
consequência.
É um bom livro para quem quer
iniciar o estudo do grupo dos Annales, pois trata algumas biografias
de seus membros, ainda que superficialmente, e cita uma serie de
obras ligadas ao movimento.
Bibliografia
Burke, Peter. A Revolução Francesa
da historiografia: a Escola dos Annales 1929-1989 / Peter Burke;
tradução Nilo Odália. – São Paulo: Editora Universidade
Estadual Paulista, 1991.
1Burke,
p. 86
2Burke,
p. 83